Reportagem: Rodrigo Gomes da Paixão
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS / ABRIL DE 2011
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Secretariado: Um curso de futuro
Curso de secretariado da PUC Goiás forma sua primeira turma. Professores comentam resultados e expectativas.
A profissão de secretário se originou há mais de dois mil anos na figura dos escribas no Egito Antigo. O escriba era um homem que fazia parte da corte do faraó e que dominava a escrita, fazia contas, classificava arquivos e redigia ordens. Muito do que se sabe sobre o Egito Antigo se deve ao trabalho dos escribas. Os monumentos eram erguidos sob a supervisão deles, assim como a tradição oral das classes mais baixas e dos povos estrangeiros sobreviveram graças à transcrição dos escribas.
De maneira semelhante aos escribas atuaram os taquígrafos no Império Romano e os monges na Idade Média. Com a vulgarização da estenografia, surgiu a figura dos secretários nos escritórios da administração pública, sendo que nesta altura se tratava de uma profissão exclusivamente masculina. Na Idade Moderna era possível verificar uma expressiva atuação dos secretários no comércio, tendo esta figura mais tarde se integrado à estrutura organizacional das empresas.
O cargo de secretário cresceu consideravelmente no período entre as duas Guerras Mundiais, quando o mercado de trabalho, inicialmente nos EUA e na Europa, passou a abrir as portas para a mão-de-obra feminina como forma de suprir a escassez da mão-de-obra masculina, que havia sido redirecionada para os campos de batalha. Em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial, já havia cerca de 20 milhões de pessoas atuando na área em todo o mundo. Este número só veio a crescer nas décadas seguintes.
No Brasil, a profissão começou a se desenvolver de forma maciça a partir da década de 1950, com a chegada das empresas multinacionais no país. Nessa época, houve a implantação de cursos voltados para a área como, por exemplo, datilografia e taquigrafia. Na década seguinte, ter um secretário passou a ser status de reconhecimento profissional, o que levou à valorização da profissão por parte dos empresários. Em 1969 foi criado, na Universidade Federal da Bahia, o primeiro curso superior de secretariado do país, como conseqüência da intensificação do processo de industrialização naquele estado (veja mais no box da página 2).
Em Goiás, a PUC oferece o curso desde o segundo semestre de 2008, voltado para quem se interessa pela área e pelos profissionais que já atuam nesta, mas que ainda não possuem formação de nível superior. Com duração de cinco semestres (dois anos e meio), os formandos recebem o diploma de tecnólogo em secretariado. De acordo com o professor Roque Toscano, coordenador do curso, o secretariado é “um curso que abre caminhos e perspectivas para as pessoas, já que não tem faltado emprego, vaga de estágio”.
Segundo Toscano, as áreas de atuação dos profissionais formados em secretariado são bem variadas em Goiás. Dentro das organizações públicas, o secretário pode atuar junto aos diretores e presidentes dos órgãos em geral. Já nas organizações privadas, o profissional atua sempre ao lado dos gerentes, diretores e presidentes das empresas.
Eliane Rezende Ariño, professora de Língua Espanhola no curso, destaca que o papel do secretário é administrar as “informações privilegiadas das empresas, por ser uma pessoa de alto nível de confiança”. Ela destaca que tal característica vem da própria origem da palavra secretário, que vem do latim secreta (“segredo”). Ariño também aponta que deve ser intrínseco ao bom secretário fazer as “inter-relações de pessoas e instituições com a empresa” na qual trabalha.
O professor de tecnologia da informação do curso, Wilmar Oliveira de Queiroz, aponta que o secretário é um profissional cada vez mais importante na organização das grandes empresas. Para Toscano, a importância do secretário é crucial na rotina de trabalho cada vez mais corrida das empresas. Para ele, o profissional de secretariado é muito importante, porque “dá um certo dinamismo às empresas”. Ariño aponta que, sem os secretários, “a parte executiva não acontece”.
Em relação aos resultados obtidos com a primeira turma do curso, Toscano se mostra contente com o fato de que praticamente não houveram alunos desistentes. “Isso mostra que os alunos realmente entram [no curso] com uma consciência muito clara do que querem, e fazem o curso de secretariado até o fim .
Ele também espera que o curso se projete cada vez mais na sociedade , conseguindo atrair ainda mais alunos. Ariño espera que o curso continue formando profissionais de qualidade para o mundo dos negócios, além de cidadãos bem preparados para o mundo. Queiroz espera conseguir mostrar cada vez mais para os alunos a importância de se ter noções de tecnologia da informação para a atuação profissional e para a vida em geral.
Toscano crê que a maior dificuldade do curso seja conseguir maior visibilidade junto à sociedade. Já Ariño acredita que seja a aparente “falta de interesse” de alguns alunos em relação a certas áreas do conhecimento, o que é muitas vezes causada pela sobrecarga de trabalho externo à faculdade. Queiroz aponta dificuldades específicas em relação à disciplina que ministra no curso, tais como a construção de planilhas no computador. Ele ressalta, no entanto, que sua matéria é importante não só para a atuação profissional dos alunos, mas também para a gerência da economia doméstica por parte deles.
Nos anos 60 e 70 houve a expansão da profissão de secretário no Brasil; estes profissionais se tornaram membros ativos da gerência de grandes empresas. Em 30/09/1985, após muita luta, foi assinada a lei federal nº 7.377, regulamentando a profissão. A partir de então, a classe ganhou força, tendo surgido os primeiros sindicatos da categoria. Em 1988 foi criada a Fenassec (Federação Nacional de Secretárias e Secretários) em Curitiba e, no ano seguinte, foi publicado o Código de Ética Profissional pela União dos Sindicatos.